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Crônicas de um sonho I

Você sai correndo pela porta antes de a faca que ele carrega lhe ferir. A rua se encontra deserta, é madrugada, mas ainda faltam muitas horas para o raiar do dia. Para onde você corre agora? As ruas não são seguras, você precisa se esconder. Você salta o muro da vizinha, corre entre a vegetação do terreno baldio que dá acesso a outra quadra. Para onde você foge agora? A delegacia é muito longe, ele está em seu encalço, você não pode gritar. Salta um outro muro, se esconde no escuro, você está em uma casa desabitada. Não, aqui você não pode ficar. Para onde agora?
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Não o quero.

Não o quero. Não quero seus beijos, abraços, seu corpo, seu sexo. Não, não o quero. Não quero ouvir sua voz, saber sobre o seu dia, seus problemas, suas preocupações, suas percepções, seus planos. Não, não quero lhe confortar.  Não quero mais as horas de ladainhas pífias, em que reclama sem conclusão. Quero antes a distância, ou enfiar uma faca entra a coluna e omoplata. Quero antes arrancar-lhe o coração. Desfigurar o rosto com sorriso tolo, abrir um corte da garganta ao escroto. Quero antes a total aniquilação da sua existência, apagar todos os registros do seu nome. Quero o extermínio de todos com o mesmo nome. Quero o fim dos homens. Maldiçoa-los todos e o meu coração por amá-los. Depois, consumado o ódio, extinguido o seu odor, quero abandonar meu corpo ao mar e à deriva encontrar um novo alguém pra amar.

Felicidades

Fiz 24 anos no sábado e estou me acostumando ao fato de estar um ano mais velho. Com 23 anos me sentia muito mais próximo dos 18 anos, que sei que são meus, do que estes 24 que mais parecem andar de mãos dadas com os 30. De qualquer forma, tenho de adimitir que não sou mais um garoto. Sou um homem, isso é fato. Me tragam uma garrafa de uísque, preciso beber até esquecer deste maldito fato. Não, não tenho problemas com envelhecer, só detesto a ideia de ter de ser auto-suficiente, responsável e blá, blá, blá. Gosto também da minha imagem de garoto safado que já não me cabe mais. Mas, quando é que eu me tornei homem mesmo? Adulto, eu?! Não, sou jovem, um jovem adulto. Sei lá. Definir em que grupo me encontro não vai me ajudar agora. Enquanto isso, percebo que meus hábitos não me cabem mais. Preciso de novos amigos, novos amores. Amanheci no dia do meu aniversário, na casa de R. com quem transo com frequência há pouco mais de um ano. E, por mais que ele diga que gosta de estar comigo, a

Onde tudo começou

Tenho de voltar nas minhas memórias para encontrar um motivo para estar aqui. Primeiro tenho de dizer quem sou e ao dizê-lo estarei inventando uma persona, no sentido grego de máscara. Porei esta máscara e através dela representarei a minha vida, ou a fantasia sobre a minha vida. Sou um garoto comum, muito, muito comum. Tanto que, certa vez, um amante me disse que se tivesse me conhecido na rua e não através da internet, não teria prestado atenção em mim. Isso não fez bem a minha vaidade, mas acariciou o meu ego, pois eu definitivamente não era óbvio. Peter Berlin, ícone da beleza gay da década de 70 e que definiu toda a estética gay posterior, disse em seu documentário que não se interessava em ouvir o quanto é bonito, ele sabia disso. O que lhe interessava era ser provado, ser surpreendido. E o mais interessante é que Peter era um personagem, uma construção. É em construção que me encontro e é pelo improvável que sou seduzido e é através disso que seduzirei vocês. Pois, sim, por q

Passeio Noturno I

Acabo de chegar de um despretensioso passeio noturno. Por volta das 23h acessei o meu msn de bobeira e um cara que mora próximo me convidou para ir a casa dele. Eu estava meio sem vontade de ir a lugar algum, mas uma gozada antes de dormir iria me fazer bem. Me despi da preguiça, vesti a camisa; calcei os chinelos, peguei gel lubrificante, camisinhas, as chaves e saí em direção ao prédio do carinha. Não sabia exatamente onde era, mas costumo ter fé nas pessoas ou que caso tudo dê errado, algo de bom vai acontecer, pra compensar. Acabei dando uma viagem perdida. Fiquei mais de 5 minutos no lugar onde o carinha havia mandado eu esperar e ninguém apareceu. Apenas um cara parrudinho de camiseta verde me olhava atravessado do pátio do prédio em frente. Como meu humor já não estava em seus melhores momentos, resolvi ignorá-lo, esquecer o carinha que me fez ir até ali e voltar para casa. Decisões simples, sem arrependimentos. Ladeira acima repassava mentalmente uma meia dúzia de desaforos qu

A vida de Caio

Pensei em minha primeira postagem neste novo blog, escrever sobre o sexo, ou a promiscuidade ou sobre tudo o que eu pretendia compartilhar com os futuros leitores deste blog. Mas o texto não fluiu por mais de uma semana, até que neste exato momento percebi sobre o que se trata este blog - Escrever é uma construção - Escrevo porque preciso me reconstruir, mesmo antes de destruir as velhas imagens que tenho do mundo e de mim mesmo. Preciso primeiro desenhar este mapa dos caminhos que tracei e dos quais, mesmo desconhecidos, pretendo seguir. Tenho um pouco de medo de prosseguir me despindo do meu passado na busca por construir um novo futuro, no qual, possa finalmente como um Narciso, achar o verdadeiro amor em mim mesmo. Como se faz isso? Como se olha no espelho e se sabe que aquilo refletido é tudo o que sempre se desejou? Nunca tive essa sensação. E agora tenho menos ainda. Quero sair da orbita em que me inseri, trocar de casa, de amigos, de profissão. Quero não ter paradeiro, por