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Crônicas de um sonho I

Você sai correndo pela porta antes de a faca que ele carrega lhe ferir. A rua se encontra deserta, é madrugada, mas ainda faltam muitas horas para o raiar do dia. Para onde você corre agora? As ruas não são seguras, você precisa se esconder. Você salta o muro da vizinha, corre entre a vegetação do terreno baldio que dá acesso a outra quadra. Para onde você foge agora? A delegacia é muito longe, ele está em seu encalço, você não pode gritar. Salta um outro muro, se esconde no escuro, você está em uma casa desabitada. Não, aqui você não pode ficar. Para onde agora?

Não o quero.

Não o quero. Não quero seus beijos, abraços, seu corpo, seu sexo. Não, não o quero. Não quero ouvir sua voz, saber sobre o seu dia, seus problemas, suas preocupações, suas percepções, seus planos. Não, não quero lhe confortar.  Não quero mais as horas de ladainhas pífias, em que reclama sem conclusão. Quero antes a distância, ou enfiar uma faca entra a coluna e omoplata. Quero antes arrancar-lhe o coração. Desfigurar o rosto com sorriso tolo, abrir um corte da garganta ao escroto. Quero antes a total aniquilação da sua existência, apagar todos os registros do seu nome. Quero o extermínio de todos com o mesmo nome. Quero o fim dos homens. Maldiçoa-los todos e o meu coração por amá-los. Depois, consumado o ódio, extinguido o seu odor, quero abandonar meu corpo ao mar e à deriva encontrar um novo alguém pra amar.